E lá vou eu em direção aos 30 anos que sempre quis fazer.

Quando era mais nova e me via querendo ser adulta de uma vez e dona do meu nariz, pensava nos 30 meio que como uma espécie de limite. Antes dos 30, pode tudo. Depois, também, mas aí você é oficialmente adulto.

Nova, eu me imaginava oficialmente adulta trabalhando como jornalista, casada, com filhos e uma casa com varanda, um vaso de flor em algum aparador e, quiçá, autora já do livro que quero escrever desde que aprendi a juntar letrinhas.

Casei, estou quase indo morar em uma casa que chamarei de minha, que vai ter varanda e flores no aparador. Sou jornalista e trabalho com internet, que não fazia parte dos meus planos juvenis. Ainda não tenho filhos, mas já tenho os nomes de alguns deles. Meu marido é o mesmo moço que me fez derreter de amores pela primeira vez na vida, quando eu ainda tinha 14 anos e não sabia de nada.

E, de repente, 30.

De repente eu me vejo sendo uma pessoa completamente diferente da menina que cresceu com medo e querendo fazer de tudo, inclusive o que poderia prejudicar a mim mesma, para agradar as pessoas ao meu redor. Hoje, não.

O marido que dorme comigo todas as noites é a pessoa mais linda, carinhosa e atenciosa do universo. Ele me conhece melhor do que qualquer outro ser humano e com ele eu sou quem eu realmente sou e sempre digo o que penso, sem medo de qualquer julgamento. Já sei que vou ouvir, por mais alguns anos, talvez, que me casei rápido demais, e cada vez que isso me é dito eu sorrio por dentro e cumprimento a mim mesma, por não viver com esse medo que todo mundo sempre tem do que pode dar errado.

Hoje não sou nem 10% da pessoa que era em 2011, quando fui morar na Irlanda e passei um ano curtindo a vida adoidado, rindo, me divertindo, conhecendo gente e tomando Guinness. Aprendi tanto e por alguns anos senti saudade e uma espécie de arrependimento por ter voltado. Hoje, não trocaria minha vida de agora por nada e não conseguiria viver na Irlanda da forma que vivi há seis anos – meu Deus, seis anos!

Eu emagreci, eu posei pro Jorge Bispo, eu tive um AVC e achei que poderia dar muita, muita merda com a minha saúde. Passei a vida inteira sentindo medos moderados e constantes, medo de perder pessoas, de não agradar, de ficar sem amigos, de ser diferente. Aí, no dia do AVC, eu descobri o que era medo de verdade, e foi esse medo que me mudou e que me fez aceitar um pedido de casamento e planejar ter filhos e escolher a decoração da casa e aprender a beber cachaça. O medo daquele dia em março de 2016 foi o que me acordou de verdade para a vida.

Tenho trabalhado muito e em vários sentidos. No profissional, no matrimonial, no sonhador, no familiar. O trabalho maior, no entanto, está totalmente focado em mim, porque é como os comissários avisam a gente antes da decolagem: em caso de despressurização, é preciso colocar a máscara primeiro em você mesmo antes de ajudar outra pessoa a colocar também.

Eu hoje me preocupo sempre com a minha máscara de ar, e depois com a máscara do meu marido, e dos meus pais e familiares. Tem que ser assim.

Quando me lembro do sofrimento do começo dos meus 20 anos e do quanto precisei lutar e chorar para construir laços que são, sim, muito importantes até hoje, tenho vontade de voltar e dizer para a menina que fui um dia que as coisas vão ser mais fáceis, que as prioridades todas mudarão, que os amigos verdadeiros serão sempre seus e que, na verdade, você precisa cuidar de você, do seu emocional e de todos os muros que existem dentro dessa sua cabeça bagunçada.

A terapia, que fiz durante um tempo e que logo quero voltar a fazer, foi também um dos fatos marcantes dos meus últimos anos, e se hoje tem gente que diz que sou carrancuda ou que nunca topo fazer nada, de novo eu vejo que estou no caminho certo. Quando todo mundo sorri demais para o que você faz é porque você está fazendo o que os outros esperam de você, e eu não gosto mais disso. É perigoso.

Não faço nada de errado, mas também não engulo sapos. A Daiana que me tornei aos 30 é uma pessoa que a Daiana de 15 olharia com espanto e com certa admiração.

Que as coisas continuem mudando. Hoje eu sou livre para me moldar às minhas próprias mudanças, para cuidar do meu nariz e para casar quando e com quem eu quiser e do jeito que eu quiser. Sou livre para comprar roupas, sapatos e para assistir Meu Malvado Favorito no cinema, ao lado do meu marido. Sou livre para decidir passar meu aniversário com ele e com a sua avó, que é também minha. Sou livre para querer ter filhos e uma casa do nosso jeitinho.

A vida é um rolo compressor e nos ensina coisas de um jeito nem sempre agradável. Minhas crenças estão fortes, aos 30, e eu finalmente consegui ser a pessoa que queria ser. Faltam os filhos e os livros, mas para isso ainda tenho tempo.

O Philipe, que eu mesma só fui conhecer bem depois de morarmos juntos e nos casarmos, é a pessoa que hoje eu defendo com unhas e dentes e que coloco em primeiro lugar na minha vida porque é isso que ele tem feito comigo também, há um bom tempo. Depois de tantos desamores e decepções, aprendi o que é reciprocidade.

Ninguém nunca me esperou, no retorno de uma viagem a trabalho, com a casa limpinha e com janta feita e um vinho bom em cima da mesa. Ninguém nunca cuidou de mim, depois de eu já ter saído da casa da minha mãe, com tanto carinho, com tanto cuidado e com tanta preocupação como ele o faz. Fiquei doente algumas vezes ao lado dele e foi ele que ficou comigo no hospital, segurando a minha mão e me olhando enquanto eu dormia.

Era esse tipo de amor que eu quis a vida inteira. De total liberdade, intimidade e dedicação. Somos intensos e vivemos um pelo outro. Aos 30 eu finalmente tenho comigo o que queria ter quando 30 anos completasse e isso não poderia me deixar mais feliz. Que venham quantos anos eu tiver que ter e que viver. Agora meus sonhos não são apenas meus e isso é muito mais bonito do que qualquer música de amor ou qualquer novela das seis. É mais bonito porque é meu e porque é de verdade.

Feliz ano novo para mim. Feliz ano novo para o Phi. Feliz ano novo para a gente.

phi

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Um pensamento sobre “De repente 30

  1. Parabéns, Daia!
    Parabéns pelos 30 e parabéns por ser essa pessoa espetacular.

    Fazer 30 anos é algo trágico para alguns, mágico para outros. E como disse aqui carolemcuritiba.wordpress.com/2013/04/22/sim-30/, fazer 30 anos ao lado de alguém que te ama com qualquer idade é outra coisa! É mágico!
    Que a vida siga te proporcionando momentos mágicos!

    Parabéns pelo amor, sua linda!
    Beijos!

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